sábado, 29 de março de 2014

O livro que ninguém lê

Agitado e inquieto, Pablo observava uma sombra vinda das alças de sua mochila, elas pairavam naquela superfície fria como se fossem corcovas de um camelo, como se fossem dunas cinzentas.

Pablo percorria aquelas dunas enquanto segurava um livro meio colorido em suas mãos, e não demorou muito para que o próprio se atirasse ao chão. Em seguida, Pablo também foi.

Sentou-se numas das montanhas cinzas, fechou seus olhos, e sentiu aquela brisa vinda do mar mais negro e sem fim, presente em todos os interiores, sólidos ou acolchoados.

O garoto não via nada, mas sentia a maré acariciando seu corpo por inteiro. Como um homem cego, deixava-se guiar por dentro de si mesmo, estremecia ao primeiro contato com os objetos espalhados que encontrava pelo caminho. Pouco a pouco ele encontrava uma maneira de reconhecê-los em meio à escuridão, assim evitaria possíveis tropeços.

Encontrou uma jovem, ela tinha cabelos leves e bagunçados, se chamava Rúbia.

Rúbia pegou o tal do livro empestado, mas arrancou algumas páginas. Ela não gostava de certas cenas. Mas as folhas eram coladas todas juntas num quadro, no quarto da moça.

Pablo e Rúbia pintaram várias paisagens. Era uma amizade que merecia a palavra linda como definição.

O livro colorido deve estar em algum lugar, perto ou longe, não há como saber. Deve estar velho.

Rúbia guardou tão bem as páginas que nunca mais achou, mesmo procurando desesperadamente. Talvez algum dia, alguém as encontre, intactas.

Pablo, tinha um brilho no olhar.
O garoto, tinha brilho nos olhos. 





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