Estou aqui, provavelmente.
Tento me concentrar em algo que poderá
ser utilizado em conversas futuras, e eu realmente gosto de estar aqui, nesta
palestra sobre alguma coisa.
Cerca de quinhentas pessoas naquela sala meio
sépia, três delas opinavam sobre tudo, me pareciam bem empolgadas, as outras, imaginavam
os outros, assim como eu, empolgados também.
Acho que percebiam quantas conexões eram possíveis
apenas pelas expressões de cada um.
Alguns eu sentia uma imensa vontade de
iniciar uma conversa, uma conversa particular, dentro de uma casinha meio
rosada e macia, rodeada por cercas elétricas. Porque fora dela poderíamos ser
atropelados.
E a conversa fluía, com alguns eu já
conhecia os pais, e já havia dado boas gargalhadas que seriam capazes de deixar
qualquer um surdo, caso eles fossem capazes de ouvi-las.
Um deles levantou-se e foi embora, não
sei pra onde.
Mas ele ainda estava aqui. E
provavelmente em mais uns incontáveis lugares.
Uma tristeza me invadiu ao lembrar que
ele não conhecia onde estava agora, e nem por onde andou. E nem conseguia se
lembrar dos tantos cafés que havia experimentado, nem das cozinhas que conheceu.
Nunca poderia.
Mas que bom, talvez!
Assim, evitamos vários atropelamentos.
Caminhando por diversas faixas brancas, pintadas ou velhas, até que o farol se torne vermelho.
Luná Gonçá